O digital agitou quase tanto como a pandemia o nosso mundo.
Tudo evoluiu com a necessidade gerada pelos confinamentos. E como muitos já disseram, tivemos uma evolução que, como alguns apontam, foi de quase dez anos em alguns meses.
E muitas soluções começaram o seu desenvolvimento com estes condicionamentos. Desde negócios a soluções tecnológicas que serviram as necessidades emergentes, assim como aplicações, estando todos cada vez mais dependentes dos nossos equipamentos móveis.
São identificadas necessidades, e a oportunidade gera a possibilidade de desenvolver soluções que são lançadas no mercado.
Mas o desenvolvimento de uma destas soluções, e se bem que muitos tenham querido aproveitar o ambiente e "embalo" criado pelas condições (assim como a oportunidade de tempo para desenvolver outras coisas), não pode ser desligada de várias questões e necessidades.
Aliás como tivemos oportunidade de referir algumas no nosso post em que falamos do livro "Hooked: How to Build Habit-Forming Products, de Nir Eyal".
Qualquer uma destas soluções, e nomeadamente as aplicações, requer que algumas situações sejam analisadas e avaliadas, como por exemplo a necessidade de conhecer o mercado e os clientes potenciais.
Até porque ninguém começa a construir a casa pelo telhado, certo?
Isto é tão mais relevante, quando os recursos são escassos. Grande parte das empresas (ou empreendedores) são de pequena ou média dimensão. Os investidores não abundam no nosso espaço empresarial; e mesmo porque alguns projectos se iniciam entre grupos de amigos/conhecidos/familiares que aplicam as suas poupanças e tempo no projecto.
Assim, é importante dar alguns passos conhecendo e avaliando, antes do início do investimento na solução propriamente dita (principalmente se o modelo/solução ainda não existe e não tem provas dadas), para ter o conhecimento do esforço que será necessário empreender (ou se há mesmo espaço e capacidade de combater a concorrência - e por vezes alguns "Golias").
A isto pode-se chamar desenvolver uma estratégia "go-to-market".
Perceber o que é necessário para colocar o nosso projecto no mercado e junto dos clientes potenciais.
Nomeadamente no que diz respeito ao esforço financeiro de promoção e divulgação, pois esta actividade na fase de lançamento pode requerer bastantes recursos.
Igualmente, é necessário ter consciência de que muitas empresas, e que chegaram a ter grandes investidores, para o seu desenvolvimento e crescimento demoraram uma década ou mais a chegar à fase de ter lucros.
Ou seja houve muito investimento antes de ser possível recolher dividendos desses projectos.
Para além da clássica necessidade de se "diferenciar da concorrência", é necessário possuir capacidade de se destacar do ruído digital existente e de obter a notoriedade necessária para o seu cliente potencial experimentar o que lhe propõe.
Estudar a forma como se comporta o mercado, e as interacções entre consumo e o fornecedores, assim como as diferenças entre diferentes destinos ou tipos de consumidores, também podem ser importantes.
Por muito atractivo que seja o feedback dos FFF (Friends, Fools and Family - Amigos, Tolos e Família), que sempre nos vão apoiar e dar inputs positivos, o grande mercado e o consumidor que podemos conhecer de forma superficial (ou sobre quem podemos ter uma perspectiva enviesada), é que vão potenciar o nosso negócio e dar-lhe, ou não, a possibilidade de crescer e escalar.
O mercado potencial, em termos de dimensão é outra perspectiva que é necessário conhecer e avaliar, assim como a sua eventual evolução.
Variantes como alterações económicas previsíveis ou comportamentos condicionadores podem ditar o futuro de qualquer empreendimento, principalmente se operar essencialmente no digital.
Depois de obter um conhecimento destas e de outras variáveis poderá ter uma opinião mais informada do potencial de mercado e do interesse (ou não) de investir.
Pode mesmo chegar à conclusão de que afinal não é esta a solução; ou que necessita de desenvolver algumas afinações no que era a sua ideia inicial (ou quem sabe descobrir novas soluções ou caminhos).
Mercados muito competitivos ou saturados são sempre complexos. E as eventuais barreiras à entrada, como é a necessidade de capital, podem ditar o sucesso ou falhanço do seu empreendimento.
É preferível conhecer os obstáculos e decidir, do que desperdiçar capital e recursos em projectos que, à partida, podem estar destinados ao fracasso ou com fraca rentabilidade.
E mesmo que devemos aprender com os erros, não é necessário estarmos a cometer erros desnecessários.
Os consultores experientes existem por algum motivo. A sua experiência e capacidade de análise são uma mais valia que pode ter do seu lado.
E mesmo que lhe pareça uma despesa, são um investimento que o ajudam tanto ou mais que o conhecimento da sua área de negócio.
Assim, e como resumo:
Comece por definir uma estratégia "go-to-market";
Para isso conheça bem o seu mercado, e os espaços geográficos para onde se destina;
Diferencie-se, e acima de tudo posicione-se;
Conheça o seu cliente potencial e o que o influencia;
O ambiente onde o cliente e a concorrência actuam, nomeadamente económico e social, podem determinar quando é o momento de investir (ou se há momento para isso);
Só depois de ter esse conhecimento é que comece a investir;
Retire lições da informação recolhida, nomeadamente afinando as ideias de acordo com o que o mercado quer;
Tenha problemas em alterar a sua ideia inicial, ou em enveredar por outro caminho. Isso é um sinal de inteligência;
Procure a ajuda (se não domina estas questões) de quem o pode aconselhar;
Não baseie as suas acções no que os que o rodeiam e são mais próximos (a intenção deles é boa, mas podem não corresponder à do mercado).
Mais questões podem ser abordadas nesta fase, mas esse trabalho agora é de quem está com o projecto ou recorrendo a ajuda de técnicos e consultores especializados.
Vários livros também podem dar o seu suporte, como "A Grelha" ou o "Plano de Marketing de uma Página".
Mas acima de tudo há que ter consciência de que antes de começar a construir o telhado, tem de ter bons alicerces.
E o trabalho não termina aí.
Porque depois de entrar no mercado é preciso conseguir aí continuar, manter o crescimento e evoluir. É uma missão e um trabalho constante...